Macumba (oferenda) é patrimônio imaterial

As oferendas deixadas em encruzilhadas eram a forma dos negros alimentarem seus irmãos escravos que fugiam dos feitores e capitães do mato. Eles escolhiam lugares onde costumavam passar escravos fugitivos e colocavam comida pesada: carne, frango e farofa porque sabiam da fome de dias sem comer e deixavam também cachaça para aliviar as dores do corpo e dar-lhes algum prazer. As velas eram postas em volta dos alimentos para animais não se aproximassem e consumissem o alimento. 

Daí surge o que hoje se denomina oferenda, despacho ou macumba, pois o rito permanece, incorporado às religiões afro como forma de agradecimento e pedido aos ancestrais, e em homenagem às suas entidades misticas. Sendo que a cultura eurocêntrica e cristã desvirtuaram a prática, para causar medo e abominação, e reforçar os preconceitos e discriminações contra afrodescendentes. 

Eu sou de fé cristã, e prefiro acreditar que apesar de tudo, naquela época, havia solidariedade no mundo e as pessoas se preocupavam umas com as outras a ponto de fazerem um esforço para alimentar alguém mesmo sem conhecer o seu rosto. Hoje, vejo pessoas em igrejas cheias, e igrejas em todos os lugares, servindo como instrumento de manipulação do "ser", da exploração do "ter" ou com intenções político-partidárias e poder. Escravos dos desígnios materiais.

A região onde a minha família é egressa tem grande patrimônio cultural material e imaterial, esse último especialmente ligado a época da escravidão. Já comentei noutras postagens sobre a comida, festas e sincretismos de São Félix e Cachoeira, cidades históricas da Bahia. A história oral, passada dos escravos aos seus descendentes - e mais recentemente em livros e mídias - relata experiências  carregadas de solidariedade e resignação, e de muito sofrimento.

Hoje vivemos melhor, graças a Deus (Jeová, Oxolá ou Alah). Todavia, no quesito "humanidade" e "solidariedade", será mesmo que evoluímos?


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